By agosto 18, 2025

Entrevista do mês | Louise Nakagawa fala sobre os impactos e próximos passos do evento

Coordenadora de projetos, Louise Nakagawa é responsável pelo conteúdo e engajamento de painelistas para os Diálogos Boi na Linha

Boi na Linha – Qual é o objetivo dos Diálogos Boi na Linha e como surgiu o evento?
Louise Nakagawa – Os Diálogos Boi na Linha nasceram em 2023 com um propósito claro: criar um espaço genuíno de construção coletiva e compartilhamento de experiências. Queríamos reunir diferentes atores da cadeia da carne e do couro bovinos – desde produtores, sindicatos, frigoríficos, bancos e organizações da sociedade civil – para discutir desafios, dificuldades, mas também oportunidades para o setor e para a cadeia como um todo.

A ideia sempre foi promover um encontro aberto, que acolhesse perspectivas diversas e ajudasse a construir caminhos para uma pecuária mais sustentável, legal e inclusiva. A primeira edição aconteceu em Marabá (PA) em 2023, a segunda em Cuiabá (MT) em 2024, e agora nos preparamos para fechar esse ciclo com o encontro em Brasília, em outubro deste ano.

Boi na Linha – Quais resultados ou encaminhamentos dos Diálogos você destacaria como fundamentais para o Programa Boi na Linha?
Louise Nakagawa – Eu diria que o maior impacto foi a aproximação com atores importantes dos territórios onde passamos e que fazem parte do Programa Carne Legal. O Programa Boi na Linha já tinha um diálogo estabelecido com frigoríficos por meio das oficinas de capacitação, mas os Diálogos abriram portas para outros segmentos: pecuaristas de diferentes portes, sindicatos e associações, produtores familiares, além de representantes do varejo, indústria de insumos, bancos e de mercados internacionais.

Cada encontro traz três temas centrais que são fundamentais para a agenda do programa: Legalidade e monitoramento socioambiental, relacionados diretamente aos compromissos do TAC Carne Legal; Rastreabilidade, essencial para garantir a transparência da cadeia de produção de carne e couro, mas também para abrir novos mercados e, inclusive para melhorar a gestão e a produtividade; Reintegração de fornecedores, porque não basta bloquear quem está em situação irregular – precisamos discutir, desenvolver e implementar caminhos para que esses produtores possam se regularizar e voltar ao mercado formal, de forma digna.

Essas conversas trouxeram mais clareza sobre os problemas reais enfrentados na ponta, nos permitindo ajustar estratégias e tornar o programa mais conectado com a realidade dos diversos elos dessa cadeia de valor tão importante para a economia brasileira.

Boi na Linha – Conta um pouco mais sobre as edições anteriores?
Louise Nakagawa – Até agora realizamos duas edições: Marabá, em 2023 e Cuiabá, em 2024. A terceira acontecerá em Brasília, em outubro próximo. Entre painelistas e público, conseguimos mobilizar uma diversidade grande de setores: frigoríficos, curtumes, bancos, organizações da sociedade civil, sindicatos e associações de produtores, federações regionais, empresas de consultoria e de geomonitoramento, pesquisadores na área, além de atores que lidam com exportação e mercados internacionais.

A cada ano temos atraído cerca de 200 participantes que se reúnem para acompanhar atentos os mais de 20 painelistas de altíssimo nível que, sempre muito gentilmente, participam dos nossos encontros. Esses eventos aproximaramo Programa Boi na Linha e o Imaflora dessas regiões, consideradas verdadeiros hubs de produção, e mostrou para diferentes públicos a importância do Ministério Público Federal nessa agenda, no combate ao desmatamento ilegal e sobretudo no cumprimento do Código Florestal e de outras legislações brasileiras.

Boi na Linha – Qual sua avaliação geral do evento após essas edições? Avançamos?
Louise Nakagawa – Avançamos muito. Os Diálogos permitiram que conhecêssemos melhor as realidades locais, entendêssemos de perto as dificuldades e desafios enfrentados pelos produtores e criássemos pontes entre setores que muitas vezes não se conversavam. Isso, sem dúvidas, tem fortalecido o engajamento e também tem ajudado a levar informação qualificada para o setor, não apenas no Brasil, mas para outros países compradores da nossa carne bovina e couro.

Agora, a expectativa é fechar esse ciclo em Brasília reunindo atores que atuam em âmbito federal – governo, parlamentares, agências reguladoras, setor financeiro e embaixadas de países que possuem relação comercial com o Brasil – para ampliar a discussão, elevando o debate paraoutro patamar. Queremos consolidar tudo que aprendemos nos territórios, dialogar com quem está definindo políticas públicas e relações comerciais estratégicas para o país, e principalmente, criar um espaço para que as representações do setor produtivo e indústrias dos estados que fazem parte do Programa Carne Legal, compartilhem os avanços de suas iniciativas, já estabelecidas e em vigor, com organizações que estão à jusante do processamento de carne, seja no Brasil ou no exterior.

E quando eu digo fechar o ciclo, eu quero dizer que nossa perspectiva era de realizar apenas três edições. Mas devido à enorme importância do tema socioambiental e climático, ainda mais diante do cenário geopolítico e potencial de expansão das exportações de carne bovina, bem como todos os saldos positivos que temos visto desde o primeiro encontro de 2023, o nosso plano é desenhar um plano para mais três eventos nos próximos anos.

Boi na Linha – E o que esperar da próxima edição em Brasília?
Louise Nakagawa – Queremos fechar este ano com chave de ouro. A edição de Brasília será um momento de síntese e expansão: vamos agregar ao debate, que já tem sido feito de maneira regional,os aprendizados das edições anteriores com um diálogomais amplo, envolvendo parlamentares, ministérios, embaixadas e o setor financeiro.

Inclusive, nesse momento em que o comércio internacional está fervilhando de novidades e, ao mesmo tempo, de indefinições, estamos trabalhando para trazer atores do mercado chinês para compartilhar a visão de grandes parceiros comerciais do Brasil. Será uma grande oportunidade de mostrar que existem iniciativas robustas e há anos consolidadas no Brasil, como o Programa Boi na Linha e o TAC da Carne, que posicionam o país como referência em produção legal e sustentável. Nosso objetivo é que esse diálogo traga ainda mais informações, gere compromissos reais e ações coordenadas para transformar a pecuária brasileira.