By dezembro 22, 2025

Por Lisandro Inakake, Gerente de Projetos do Imaflora

Compromissos, integridade e monitoramento estiveram no centro dos debates na COP30

A COP30, realizada em Belém, consolidou um ponto de inflexão no debate internacional sobre agropecuária, florestas e clima. Pela primeira vez, a pecuária amazônica deixou de aparecer apenas como problema e passou a ser apresentada, em diferentes espaços oficiais e paralelos, como parte da solução climática – desde que ancorada em rastreabilidade, legalidade e transparência. Essa mudança de narrativa dialoga diretamente com a trajetória construída pelo Programa Boi na Linha ao longo dos últimos anos. Durante a conferência, compromissos relacionados a cadeias livres de desmatamento, integridade socioambiental e monitoramento verificável ganharam centralidade nas negociações e nos anúncios multilaterais. 

Documentos oficiais e declarações de governos e instituições financeiras reforçaram que não há mais espaço para promessas genéricas: o mercado e a diplomacia climática exigem dados auditáveis, protocolos operacionais e sistemas capazes de demonstrar conformidade em escala. Nesse contexto, iniciativas brasileiras de rastreabilidade da pecuária foram frequentemente citadas como exemplos de avanços concretos já em curso. Em painéis sobre uso da terra, financiamento climático e comércio internacional, representantes do Brasil destacaram a existência de protocolos ativos, construídos em parceria com o Ministério Público Federal, estados e sociedade civil, como evidência de que o país dispõe de instrumentos para responder às exigências globais. 

O Boi na Linha foi mencionado como uma dessas experiências que traduzem compromissos ambientais em procedimentos claros de monitoramento e auditoria. Outro tema recorrente na COP30 foi o papel do setor financeiro. Bancos multilaterais, investidores institucionais e fundos climáticos deixaram explícito que o acesso a crédito e a investimentos dependerá cada vez mais da capacidade de comprovar origem legal e ausência de desmatamento nas cadeias produtivas. Essa agenda converge com o trabalho do Boi na Linha ao fortalecer a governança do TAC da Carne Legal e ao oferecer parâmetros técnicos que reduzem riscos jurídicos, reputacionais e climáticos para empresas e financiadores. 

A COP30 também evidenciou que o debate não se limita à Amazônia. Houve forte ênfase na necessidade de expandir soluções para outros biomas, como o Cerrado, e de integrar diferentes cadeias produtivas sob uma lógica comum de rastreabilidade e conformidade socioambiental. Essa perspectiva reforça a relevância do Boi na Linha como política em construção contínua, capaz de dialogar com novas regulações internacionais, como a EUDR, e com mercados estratégicos cada vez mais atentos à origem da carne brasileira. Ao final da conferência, ficou claro que a pecuária responsável não é mais uma agenda paralela ou voluntária. Ela se tornou parte estrutural das estratégias climáticas, comerciais e de desenvolvimento. 

Para o Boi na Linha, a COP30 não representou um ponto de chegada, mas a validação de um caminho: transformar dados em decisões, protocolos em confiança, e compromissos em prática cotidiana na cadeia da carne.