By Boi na Linha janeiro 29, 2025
Por Guilherme Whyte
Coordenador de projetos no Programa Boi na Linha – Imaflora
Em um ano em que a Amazônia ocupa o centro das discussões globais sobre mudanças climáticas, impulsionadas pela realização da COP 30 na região, apresentamos o Protocolo de Monitoramento de Fornecedores de Gado da Amazônia 2.0. Este documento é o resultado de um esforço coletivo que une empresas do setor bovino, sociedade civil, órgãos governamentais e especialistas, todos comprometidos com uma pecuária mais justa, competitiva e sustentável.
A versão 2.0 do Protocolo reflete não apenas uma atualização técnica, mas também um avanço em resposta aos grandes desafios socioambientais do setor. Diante da emergência climática e do desmatamento que ameaça a maior floresta tropical do planeta e o próprio negócio da pecuária, era necessário elevarmos o nível de exigências e responsabilidade em toda a cadeia produtiva.
O que torna o Protocolo 2.0 um marco?
O documento representa uma virada de chave ao incluir critérios robustos e amplamente discutidos, como a proteção a territórios quilombolas, além do aprimoramento no combate ao desmatamento ilegal e inclusão de novas regras para desbloqueio. As empresas terão acesso a dados e seus sistemas serão atualizados para assegurar o monitoramento eficaz e a conformidade socioambiental das propriedades fornecedoras.
Além disso, a inclusão de novos parâmetros, como os polígonos de desmatamento acumulado contíguos do sistema PRODES Amazônia, oferece ao setor uma ferramenta sólida para atender às demandas de mercados globais que exigem transparência e compromisso ambiental. Especificamente, os “polígonos acumulados contíguos” referem-se a áreas de desmatamento em que polígonos menores que 6,25 hectares são considerados apenas quando estão adjacentes entre si, formando uma área total igual ou superior a 6,25 hectares. Isso significa que a sobreposição com esses polígonos não resultará no bloqueio de propriedades, a menos que os polígonos adjacentes formem uma área total superior a 6,25 hectares.
Em um momento em que consumidores e investidores exigem cada vez mais responsabilidade socioambiental, o Protocolo 2.0 se apresenta como um guia essencial para fortalecer a competitividade da pecuária brasileira, promovendo avanços nos sistemas de monitoramento.
Um esforço conjunto para o bem coletivo
Chegar até aqui não foi tarefa fácil. Foram anos de discussões no âmbito do Comitê de Apoio ao Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) e da 4ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal, envolvendo múltiplas perspectivas e interesses. A participação ativa de empresas, acadêmicos, organizações da sociedade civil e especialistas em geomonitoramento foi crucial para que chegássemos a um documento que equilibra rigor técnico e viabilidade prática.
O Imaflora, por meio do programa Boi na Linha, orgulha-se de coordenar os esforços técnicos que tornaram possível essa nova versão. Acreditamos que soluções coletivas são a chave para transformar o setor, promovendo desenvolvimento econômico alinhado à conservação ambiental e à justiça social.
Compromisso com o futuro
No contexto atual, em que os impactos das mudanças climáticas já são sentidos em escala global, a pecuária tem um papel crucial a desempenhar na construção de uma economia de baixo carbono. O Protocolo 2.0 não é apenas uma ferramenta técnica, mas também um convite à ação para que o setor seja protagonista na preservação da Amazônia e na mitigação das crises climáticas.
A implementação dessas diretrizes representa mais do que o cumprimento de obrigações legais; é um compromisso com a construção de um futuro onde a floresta em pé, os direitos humanos e a produção sustentável coexistem em harmonia.
Acreditamos que, juntos, podemos transformar desafios em oportunidades, e a Amazônia, em símbolo global de inovação e sustentabilidade. Convidamos todas as empresas, produtores e stakeholders do setor a se engajarem nessa jornada. O futuro do planeta e da pecuária brasileira depende disso.
Guilherme Whyte, engenheiro ambiental pela Unesp, com MBA em Agronegócios pela ESALQ atua como coordenador de projetos no Programa Boi na Linha, liderando iniciativas que promovem a sustentabilidade e a responsabilidade na cadeia produtiva da carne bovina