By dezembro 22, 2025

Para 2026: consolidação da pecuária como parte da resposta aos desafios socioambientais

Encerramos 2025 com a convicção de que a pecuária brasileira atravessa um ponto de inflexão. Ao longo deste ano, ficou cada vez mais evidente que rastreabilidade, auditoria e conformidade socioambiental deixaram de ser discursos periféricos para se tornarem elementos centrais da competitividade, da segurança jurídica e da inserção internacional do setor.

No Programa Boi na Linha, este foi o ano de transformar método em evidência. A implementação do Protocolo de Monitoramento de Fornecedores de Gado da Amazônia 2.0, a finalização do 2º Ciclo Unificado de Auditorias e a consolidação das estruturas de governança do TAC da Carne Legal nos estados da Amazônia Legal mostraram que é possível sair do campo das intenções e operar sistemas robustos, auditáveis e públicos. Os resultados falaram por si: frigoríficos auditados apresentaram índices de não conformidade significativamente menores, comprovando que compromisso se mede com dados.

Mas 2025 foi além da Amazônia. Foi também o ano em que o Brasil passou a dialogar de forma mais direta com as expectativas do mercado global. Em um contexto marcado pelo avanço de regulações como a EUDR, pela pressão de compradores internacionais e pela preparação do país para sediar a COP30, o Boi na Linha assumiu um papel estratégico: mostrar que o Brasil já dispõe de instrumentos capazes de responder às exigências de desmatamento zero, transparência e responsabilidade socioambiental.

Nesse cenário, o lançamento do Beef on Track (BoT) representou um marco. O sistema, desenvolvido a partir de protocolos já existentes no país, inaugura uma nova fase ao traduzir compromissos socioambientais em uma certificação progressiva, auditável e alinhada às dinâmicas do mercado. Mais do que criar uma nova exigência, o BoT reconhece diferentes níveis de maturidade da cadeia, amplia a visibilidade de quem já faz o monitoramento e constrói pontes concretas com compradores internacionais – como ficou claro no diálogo estabelecido com o mercado chinês ao longo do ano.

O ano de 2025 foi marcado, ainda, pela realização de eventos que sintetizam a estratégia de articulação do setor. Em outubro, a 3ª edição dos Diálogos Boi na Linha, realizada em Brasília, reuniu governo federal, parlamentares, setor produtivo, instituições financeiras, sociedade civil e parceiros internacionais em um espaço de escuta e construção coletiva, consolidando o evento como um ponto de convergência entre políticas públicas, mercado e território. 

Também na capital federal, o Imaflora – por meio do Programa Boi na Linha e a área de Política Públicas – promoveu o encontro Brasil + China: Perspectivas para a Sustentabilidade e Valorização da Cadeia da Carne Bovina. O evento aprofundou o diálogo com o principal parceiro comercial do país, mostrando que rastreabilidade, legalidade e transparência já são elementos centrais da relação bilateral. Juntos, os dois eventos reforçaram que a agenda da pecuária responsável é estratégico nas discussões sobre comércio internacional, financiamento e clima – exatamente o campo de atuação que o Boi na Linha vem ajudando a estruturar ao longo dos últimos anos.

Ainda na “editoria” evento, a participação do Boi na Linha na COP30 reforça essa trajetória. Em um momento em que o Brasil é chamado a demonstrar liderança climática, o programa chega com evidências, não promessas. Chega mostrando que existem soluções em operação, capazes de articular Ministério Público, governos estaduais, setor produtivo, sociedade civil e mercado financeiro em torno de uma agenda comum: produzir com legalidade, proteger a floresta e garantir inclusão.

E não poderíamos deixar de destacar neste artigo a informação divulgada às vesperas do fim de ano pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Em 2025, pela 1ª vez na história, o Brasil superou os EUA na produção de carne bovina, com 12,3 milhões de toneladas ao longo do ano. Relatório estimativo da entidade indica produção norte-americana de 11,814 milhões de toneladas, ou seja, 530 mil toneladas abaixo do total estimado para a oferta brasileira.

Encerrar este ano é, portanto, reconhecer avanços tanto para as iniciativas de pecuária do Imaflora, como para o setor como um todo, mas também assumir responsabilidades. Os desafios persistem – especialmente no monitoramento de fornecedores indiretos e na ampliação do engajamento de toda a cadeia -, mas o caminho está cada vez mais claro. O que 2025 nos ensinou é que dados bem construídos geram decisões melhores. E decisões melhores constroem compromissos reais.

Seguimos para 2026 com esse horizonte: escalar soluções, fortalecer alianças e consolidar a pecuária brasileira como parte da resposta global aos desafios climáticos e socioambientais.

Programa Boi na Linha
Imaflora