By Boi na Linha março 31, 2025
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Louise Nakagawa, coordenadora de projetos do Boi na Linha, fala sobre o impacto da apresentação do Programa Boi na Linha no exterior e os aprendizados com a recepção em mercados estratégicos como Itália e China.
Boi na Linha – Louise, o que motivou o programa a dar esse passo internacional e apresentar o protocolo para outros países e setores? |
Boi na Linha – Como tem sido a recepção nos mercados internacionais?
Louise – Tem sido muito positiva e, em alguns casos, até surpreendente. Em Milão, na feira Lineapelle, onde participamos de um painel sobre rastreabilidade no setor do couro, fomos abordados por representantes de grandes marcas que disseram nunca ter ouvido falar sobre esse tipo de iniciativa brasileira. Eles ficaram muito impressionados com o nível de organização e governança do Boi na Linha. Em Hong Kong, o cenário era mais maduro, mas a reação foi semelhante: “Precisamos dessa informação para tomar decisões mais responsáveis”, nos disseram representantes da Adidas, da H&M e até de uma indústria moveleira norueguesa.
Boi na Linha – Você comentou que há uma “lacuna de compreensão” sobre a realidade brasileira. Como o programa tem trabalhado para superá-la?
Louise – Um dos grandes desafios foi justamente traduzir a complexidade da cadeia produtiva brasileira para o mercado internacional. Por isso, criamos um guia específico para empresas internacionais, explicando desde o que é o Código Florestal até o papel do Ministério Público Federal. O que é óbvio para nós aqui no Brasil – como a existência do TAC da Carne Legal – precisa ser contextualizado para quem está lá fora. Eles não vivem nossa realidade de regularização fundiária ou controle de desmatamento. Então, nossa missão foi também reduzir essa assimetria de informação, criando pontes com linguagem acessível.
Boi na Linha – Quais foram os momentos mais marcantes dessa jornada?
Louise – Eu diria que ver o protocolo ser discutido em uma feira de moda, como a Lineapelle, foi muito simbólico. O setor do luxo tradicionalmente não se envolve com pautas socioambientais da pecuária, e foi gratificante ver a atenção que despertamos. Outro ponto marcante foi perceber que há sede por soluções concretas. As empresas querem ferramentas. Querem saber o que exigir e como cobrar responsabilidade de seus fornecedores. O Boi na Linha apareceu como uma resposta possível, acessível e viável.
Boi na Linha – E o que vem pela frente?
Louise – Agora, o foco é acompanhar os desdobramentos das conexões que fizemos. Plantamos uma semente importante e queremos que ela germine. Estamos abertos a capacitações, treinamentos e novos diálogos. Também vamos seguir fortalecendo o protocolo com as oficinas nacionais, com os produtores e frigoríficos. E, claro, olhando para o futuro, nossa missão é expandir o Boi na Linha para outros biomas e outros mercados. O protocolo nasceu na Amazônia, mas o desafio da produção responsável é nacional — e global.
Boi na Linha – Por fim, como essa experiência te marcou pessoalmente?
Louise – Acho que o mais forte foi perceber que saímos do nicho. Por muito tempo, falamos com um grupo específico, dentro da Amazônia. Agora, estamos dialogando com o mundo. Fincamos a bandeira do Boi na Linha lá fora. Ver o interesse que geramos, saber que despertamos confiança em mercados tão exigentes, me dá certeza de que estamos no caminho certo — e que temos muito a contribuir para transformar a imagem e a prática da pecuária brasileira.